Vou lembrar que as melhores pessoas são as loucas que
explodem como fabulosos fogos de artifício e que foi nesses fogos que veio seu
olhar de cachorro na frente da assadeira de frango da padaria. E foi pra mim. E
foi em mim. E foi com a boca.
Dos telefonemas pela madrugada e de todos os ombros, que não
foram poucos, nem pequenos. A firmeza da pele e a voz quando era firme.
Acho que foi Sófocles que eu te dei de presente quando veio
aquele sorriso descrente, surpreso, da minha própria lembrança.
Vou lembrar que você não ficou bravo descobrindo que eu
tinha olhado a sua carteira de identidade pra saber a data do aniversário que
nunca havia sido dita para quase ninguém. Nem quando eu disse para todos os
nossos amigos que era aquele, o dia.
Aquela garra, aquela força, aquele chão em que você se jogou
e apanhou, aquela luta, aquele não. Você dizendo que ia embora, e não indo.
Você ali em chuva e em sol, e sempre, e tanto, que mesmo
espaçado, o tempo, era tenso. As brigas, vou memorar com carinho, e remoer com
ternura.
E aquele dia que você disse que eu tinha olhos bonitos e
levou no bolso meu brinco como se fosse um pedaço de carne. Minha.
Deixa pra lá que também foi ruim. Você ainda deve ter o
brinco e o beat, mesmo que mangue.