quarta-feira, outubro 24, 2007

abunda

Eu não entendo nada de Marx nem de Hegel.
Pra mim, o que importa é a frequência do samba.
E se o samba filosofa enquanto a bunda mexe, que mal há?
Há que se considerar o bronze das nádegas tropicais.
Não há que se considerar o racionalismo, materialismo, dialética ou utopia de uma bunda.
A bunda ideal não há.
O mestre disse que existe gosto pra tudo, ele mesmo não se aguenta vendo bundas grandes, largas e com covinhas espalhadas em montes de rachaduras. Há quem goste de bundas secas e inclusive há quem não goste de bundas.
Marx é materialista e fala que há que se considerar o contexto. O material, o palpável, o trabalho, vem antes do resto e constrói esse resto. (Talvez eu esteja falando besteira, mas é litearatura e são minhas impressões) eu encaro como se pra Marx as coisas viessem de fora pra dentro.
Hegel viaja e fala de idealismo, que existe primeiro a razão, depois o resto. As coisas vão de dentro pra fora.
Ainda prefiro samba e bunda que essas discussões sem fim. E pra mim, a frequência que a bunda meche durante o samba é muito mais relevante que a função da bunda na sociedade.

desbundei.

Aline Dias escreve textos bizarros e sem argumentação palpável, talvez ela apenas precise desabafar sem pensar e queira registar pra rir depois.

domingo, outubro 21, 2007

O barco

Eu não queria que doesse, mas dói. São as mulheres e as crianças que desistem de afundar os navios, a Ana C que disse. Eu não sou poeta que nem ela e ontem me disseram que eu não podia me comparar. Eu sou forte e devia ficar no navio até o final, mas eu tenho tanto medo de afundar e não valer à pena. E eu queria tanto que valesse à pena e não afundasse.
E está doendo. Eu pulei e bati na hélice. Agora congelo nesse meio de Atlântico. Eu não fui feita pra congelar.
Eu queria que o Rô estivesse aqui e me ouvisse por que ele ia entender tudo e eu ia precisar falar muito pouco.
Eu não gosto de falar nem de afundar navios. Nem de pular fora antes do fim. Eu não gosto de decidir o fim. Não gosto de fins, é bem verdade. Apesar de tudo precisar ter final.
Fui eu quem quis embarcar no navio. Eu queria parar na ponta, abrir os braços, fechar os olhos e voar. Ficar olhando mar no navio eu queria. Sentir vento na cara eu queria.
Mas não são navios e não é história.
Vou ver se agüento nadar a braçadas.
Eu não queria que doesse, mas dói e a musculatura pega firmeza enquanto eu nado nesse atlântico gelado e sem barco.

domingo, outubro 14, 2007

Mariana XVI

Mariana se sentia dentro do furacão.
Os sonhos e a realidade ainda óbvia se chocavam
E ela doía por todos os lados,
Era uma ilha.
Mariana não chorava, mas não estava bem
O óbvio devia ser ombro amigo mais uma vez
E ele estava sempre lá, sempre sendo saída óbvia
E Mariana sempre amando e se ferrando
Mariana ilha de dor
E forte, cada dia mais.

terça-feira, outubro 02, 2007

Cinema

Os dois se encontraram na cantina ao lado do cinema. O cinema tinha uma sala só e era famoso por passar filmes alternativos. Fernanda estava esperando seu filme começar quando cruzou com Rodrigo. Ele tinha cara de quem sabia demais e ela era extremamente curiosa. Ela queria saber o que Rodrigo tinha a esconder. Ela saberia mais cedo ou mais tarde. Os dois sentaram-se na mesma mesa.
Ele tinha cabelos castanhos e a pele morena de sol. Ela tinha cabelos claros e longos, não era bonita, era mediana. Tinha cara de mulher comum e não tinha muito o que falar e o que esconder.
Os dois ali, na mesma mesa, travavam uma luta para ver quem escondia mais e quem mostrava mais. Nenhum queria ou podia perder. Os dois estavam errados em começar aquela briga. Fernanda não foi ao cinema.
Rodrigo disse que podia fazer muitas coisas e que tinha muita coisa a dizer, mas não disse nada e não fez nada. Fernanda esperou. Na verdade, ela tinha um medo grande e uma vontade grande de saber.
Antes daquele dia os dois nunca tinham conversado.
Nenhum sabia quem era o outro.
“por que você o está defendendo?”
“Eu não estou defendendo ninguém.”


E por que usar aspas em vez de travessão? A Aline que escreve esse texto nunca gostou de aspas. Ela sempre usou travessão por que aprendeu na primeira série que era assim que se escrevia diálogos. Mas ninguém nunca disse à Aline que se deixa claro num diálogo quem é o sujeito que fala. A Aline desaprendeu a escrever, ou talvez nunca tenha aprendido a fazê-lo.


E Fernanda não sabia bem como se posicionar. Não tinha nada a perder e se perdia no tempo por pura curiosidade. Talvez não valesse à pena insistir. Rodrigo não devia valer nenhum verso. O filme ela já tinha perdido.
Ele parecia por à prova o tempo inteiro tudo que ela tinha a dizer. Ele punha a prova quem ela era. Descreditava.
Ela ainda queria saber de tudo e não queria tomar banho ou ir embora. Os outros deviam esperá-la. Havia vida além dali.
Fernanda tinha gastado o dinheiro do filme e não o teria de volta.
Rodrigo não falava nada que prestasse, apenas acusava.
Ela tinha nojo dele e de tudo que ele falava.
Ele percebia que na verdade, era ele quem estava sendo descreditado.
Era hora de ataque.


E a Aline que escreve esse texto sente necessidade de cortar a história no meio por medo do fim.


Rodrigo conhecia a vida de Fernanda e tinha que jogar isso na cara dela. Ele não sabia o quanto ela detestava que o fizesse. Talvez soubesse. Talvez ele fosse dissimulado a ponto de saber controlar toda aquela situação.
O que ele sabia?
Ela não era prática. Já tinha percebido que não tinha o que fazer e não ia embora dali.
Devia sair.
Rodrigo tinha o que esconder, então jogava com o passado dela. Escancarava pra ela o que ele sabia.
E ele não sabia nada demais.
Ela fez questão de frisar que era mentira.
Se perdeu.
É claro que ele sabia que aquilo a atingia e ele jogaria pra ser ouvido, mesmo não tendo o que dizer.
E ela se viu desesperada e sem razão nenhuma.
Tinha que ir embora.
Foi embora.
Uma pena ter perdido a sessão de cinema.