Ela disse talvez pra fazer poesia. Tinha um medo grande de cair no chão. Muito mais fácil dançar com vários que se ater a um. Muito mais fácil não se entregasr que fazê-lo. Então ela sempre dizia maybe. Sempre passava perfume forte e doce e saia bonita pra dançar com vários maybes. Então surgiu um maybe que virou the one, mas continuaria maybe pra ela ser segura. E ela dizia talvez pra fazer poesia, pra não perder a dança. Vários poemas pra nada ter estrutura de começo, clímax e fim.
Texto velho, do ano passado, por que a falta de tempo e o cansaço não me permitem poesia nova
Gastei cinco reais com aquele vinho barato e acabei fumando um cigarro de menta. Ainda está me arranhando a garganta mais que minha gripe que também parece ter piorado por conta do choro. A cabeça dói do vinho e da raiva. Eu não consigo dormir. Há tempos que já não tinha desses problemas, eu deitava e dormia onde estivesse. Talvez eu não esteja cuidando bem nem do meu fígado nem de mim. Mas o fato é que ele disse que eu sou boa demais pra isso e o gosto do cigarro foi embora no ralo da pia depois que eu escovei os dentes. Talvez o cigarro seja tão necessário quanto o Ed Motta no meu som. Não quero nenhum dos dois e enjoei de Ed Motta. Não to ligando para a Colombina ou o Arlequim. Eu sou boa demais, ele disse. Mas eu queimei o braço no ferro de passar e eu estou tão cansada de queimar o braço no ferro de passar. Tão cansada de me queimar tentando ajeitar as coisas pra fazer tudo dar certo. Eu estou tão cansada de tentar fazer tudo dar certo. Eu estou tão cansada que nem o vinho e o cigarro deram conta. Os dois queimaram e não deram conta do meu braço com duas queimaduras leves e pequenas que vão virar marcas pra durar anos e anos a fio. As queimaduras sempre são leves e pequenas e eu sempre curo com batatas que eu não sei onde foram plantadas ou que tipo de agrotóxico levaram. O importante é que as queimaduras deixam marcas, mas eu sempre agüento. Mas hoje não. Hoje eu não agüentei o braço queimado e não me agüentei disposta a me queimar mais. Ele disse que eu sou boa demais pra isso e tem razão. Eu não preciso me queimar e não preciso não dormir. São cinco da manhã e minha cabeça dói de vinho e falta de sono. Não é meu porre de cinco reais que me dá dor de cabeça. Foi um real o milho, dois reais o cachorro quente, dois reais a coca cola e cinco reais o vinho. Parece que dizes, te amo, Aline Na fotografia estamos felizes Parece bolero te quero te quero Tenho que ler Eva Luna e aprender a cantar Chico direito. E tenho que editar matérias e tomar sol. Tenho que dormir e tenho que mar e tenho que esfriar a cabeça. Tenho que fugir e tenho que mar e tenho que mar que mar que mar mar. Tenho que desqueimar. Tenho que desvinhar e despertar e correr. Tenho que encarar de frente por que é esse o final que eu buscava para a história. Ele perguntou enquanto segurava forte o meu braço: - e o final? Eu não sabia responder no pânico daquele dia. Mas o final sou eu aqui escrevendo mais um texto de vinho barato e insônia. O final sou eu sozinha mais uma vez e mais uma vez sem chão. E no fim eu não devo ser tão boa assim. Ou sim. Foi cinco reais o vinho que não valeu. Foi vinte reais o livro e foram muitos reais de nada. Amanhã vão ser cinco reais de chocolate se o mar não der conta. Ai eu preciso tanto de mar quanto de texto. Por que o mar sabe me ler e me lamber como ninguém. O mar é tão mar que eu mar no mar. Eu quero me misturar feito leite em pó instantâneo. Vou ver se durmo agora, às 5 e acordo às 8 pra nadar num sol de sete na praia que cheira cocô do show de ontem. Mas é que eu preciso tanto de mar. Mar pra me entender e desmistificar. Pra me ser talvez inteira como não tenho sido e provar pra mim que eu não preciso de colo e nem de ninguém e que passou o tempo de ser mimada como eu sou. Passou o tempo do sim. E passou o tempo dos morangos que estamos em fins de outubro. É hora de dormir.
*sei que a resolução da imagem não está muito boa, mas vale à pena.
Uma não gostava da outra. Tinham um caso em comum e se suportavam por política e feminismo. Não podiam admitir que homem fosse motivo de discórdia. Ainda mais um homem baixo feito ele, menor que as duas. Elas não sabiam de onde vinha o imã que ele tinha e se viam no espelho quando se encontravam. Ainda assim, não gostavam de se ver e de saber que ele estava com a outra. E isso durou até elas sentarem uma do lado da outra e começarem a falar quanto prazer tinham sob a pele quente dele. Como ele gemia e como mordia e como gostava. Discutiram tempos sem chegar a qualquer conclusão e o viram passando com uma terceira. A terceira não tinha nada do físico das duas, nem nada da personalidade. Parecia oca e sem egocentrismo, chata e mole. Parecia flácida e mulher não perdoa flacidez alheia. A terceira parecia traição e as duas inflaram as narinas pra brincar de raiva. Não sabiam quão grandes eram e nem queriam tomar forma. Uma não gostava da outra, mas engolia por que as duas eram bonitas e instigantes, mesmo uma para a outra. Todos os defeitos que uma via na outra eram inventados e as duas tinham se acostumado a partilhar. Eram iguais. A terceira não podia, explodia e era mole. Mulher mole nenhuma das duas agüentaria. Politicamente, então, as duas se juntaram e fizeram uma festa em que ele não sabia que ia encontrar nenhuma, mas não poderia perder. Começo foi simples, ele dançou e bebeu. O fim foi complicado. Ele tinha que se ajoelhar ante o deus de marfim pra vomitar, mas já tinha ingerido mais laxante do que qualquer pessoa normal agüentaria.
Venho por meio desta manifestar minha indignação em relação a este provedor maldito que volta e meia me impede de comentar em outros blogs, acessar alguns conteúdos, visualizar algumas imagens e –ultimamente- tem me impedido de postar imagens no meu blog. Saiba, senhor Blogger, que blogueiros de primeira, segunda, terceira ou quinta linha, tem necessidade de postar imagens quando bem entenderem. Não vou transformar isto aqui num fotolog, mas veja bem, não ando conseguindo mexer em html tem UMA SEMANA. Isso não é coisa que se faça com uma blogueira empolgada que se propões a escrever literatura diretamente do seu computador e recebeu selos bonitinhos recentemente. Inclusive, gostaria de linkar a Camila e a Darshany nessa postagem, agradecendo-as pelos selos, mas isso é muito difícil. Senhor Blogger, querido, o wordpress tem me feito propostas indecentes e tentadoríssimas. Se eu soubesse como passar esse lindo layout rosa-pink-berrante-céquici para o wordpress, mudava logo. No entanto, o seu provedorzinho tem sido minha casa há mais de ano e eu até aprendi a botar contador em janeiro. Ó que bonitinho ali do lado! Senhor Blogger, eu fico. Eu fico e eu sei que você não vai fazer nada pra que eu continue e nem faz questão da minha presença! EU SEI DE TODA A FARSA! Eu divulgo seu nome naquela comunidade do orkut. E divulgo em cada comentário. Divulgo no meu MSN! E me diga: PRA QUE? À troco de que? Senhor Blogger, nenhum raio de imagem eu consigo postar. Só vídeo. Nenhum link eu consigo botar, só vídeo. Não vai ler esse meu apelo, que eu sei. Mas saiba que há mais blogueiros insatisfeitos e nós podemos nos unir, te jogar no expresso do oriente e depois iremos direto para o Wordpress. Muahahahahaha!!
Deixa de besteira e vem aqui pra casa. Dorme comigo hoje à noite, eu faço a janta e deixo a cama quente. Lavo as roupas todas e até boto música bonita pra a gente ouvir. Deixa de besteira e confessa que se sente tentado a aceitar mais esse convite ficcional. Meu colchão é dos bons e a vista da janela tem cores bonitas de fumaça e construção. Depois a gente pode caminhar na praia e dizer coisas idiotas um para o outro. Teríamos um mundo nosso e faríamos séries e séries de besteiras lindas. Deixa de besteira que a lua está bonita e o céu parece ter sido bordado pra nos emoldurar.
Não gosto de palavras complicadas demais, nem de ritmos complicados demais. Gosto das coisas quando dançam de leve ou pesado. Gpsto das palavras quando dançam saindo da boca ou da mão. Gosto de tudo que voa. Palavras que voam. Gosto de palavras moles e fáceis, ritmos moles e fáceis. Palavras e ritmos que façam dançar automaticamente, gramaticalmente, infinitamente. Quero todas as palavras do mundo batidas no liquidificador e formando solos de guitarra. Gosto quando as palavras me lambem as orelhas e me molham E quando escorrem
Ele era o segundo cliente do dia e seguia o mesmo esquema do primeiro. Abraço, mão nos seios, cama e nada de beijo na boca. Pra ela não importava que ele fosse limpo ou sujo. Usava preservativos e sentia-se mais ou menos protegida. Fazia exames regulares pra nada assustá-la ou se tornar grave. Mais um cliente, um intervalo e nada de beijo na boca. Naquela tarde, no entanto, alguma coisa fez a casa dela tomar cores diferentes. O cheiro dele invadia o lugar e todos os seus poros. O cheiro dele a dominava por completo e ela não sabia por que. Então ela tentou ser profissional e botou as mãos dele nos seus seios. Não era o que ele queria. Ele se aproximava ameaçadoramente da boca dela e ela desviava. Pensava que pra isso devia haver mais. O contato entre bocas é mais íntimo que todos os outros. Se ele encostasse nas suas nádegas ela não se ofenderia nem fugiria. Ela sabia que havia algo estranho na quantidade exagerada de perfume e sabia que tinha vontade de experimentar um beijo na boca simples e casto. Não era simples. Não era casto. Era vulgar e vil e pesado e ela não queria de forma alguma ter que encarar nenhuma boca que não fosse amor. Não podia ser nem paixão. Tinha que ser bonito e mágico e vir acompanhado de flores, danças e estrelas pintadas no céu pra tornar mais bonita a cena. Ele continuava insistindo e ela o expulsou. Mais um cliente sem beijo depois. E ele voltou com mais perfume e mais dinheiro e até perguntou-lhe o nome de verdade. Conversaram tardes inteiras com ele pagando o sexo que não queria e o vinho que gostava. Talvez ela o amasse, talvez não. Mas no dia em que resolveu beijá-lo não cobrou a hora e cancelou todos os outros clientes. Beijou-o um dia inteiro sem nenhum vinho e quase sem mãos.
Olheiras enormes. Maiores do que se espera num rosto de mulher. Havia também alguma coisa no jeito de andar que não parecia simples, nem torto. Ela andava mole e preso ao mesmo tempo, gingado depressivo e lacônico. Olheiras grandes que não faziam o rosto ficar feio de forma alguma. Havia certa beleza nas sardas e na palidez ultrarromântica. E sim, o mal do século era ela que usava saias. Por que qualquer mal do mundo nela era mais intenso e só ela importava. Gingado mole, olheiras e egoísmo superior a egoísmos leoninos. Ela se via rodar, então. Se via sem lugar e sem drogas que a satisfizessem. O que ela era e o que tinha era o gingado e as olheiras. O que ela tinha era o mistério que as olheiras davam, a curiosidade que o gingado provocava. Não. Ela não tinha lugar. Continuaria pra sempre a rodar. Peso enorme no peito. Maior do que se espera no peito de qualquer mulher sem filhos.
Aviso aos navegantes: o texto que se segue tem trilha sonora. Fica melhor ao som da música do vídeo do que sem ela.
- Casa comigo? - Tá com algum problema? - Não, na verdade eu tenho pensado nisso há muito. Casa comigo e a gente passa a ter dois violões e uma casa e muitas pipocas. - Não me parece certo. - Sim, na verdade eu já quero há muito tempo, mas eu sou menina e não devia pedir por que é o homem que tem que ficar de joelhos. Mamãe que ensinou. Mas casa comigo e destrava que nem eu destravei quando senti seu cheiro? - Pense bem, vamos estragar tudo. - Não acho. Quero casar fugido e sem chamar ninguém. Vamos? A gente pode ter um sonho romântico de outono e inverno e primavera e verão e pular de problema em problema. A gente pode brigar um monte de vezes e depois dormir na mesma cama abraçado e de pazes feitas. - Não pode ser simples assim, menina. - Ah! Vamos! Deixe de ser bobo que casado a gente pode sempre brincar de roda e você pode me trazer flores. E eu nunca mais vou doer por homem nenhum que só você vai valer pra sempre até a morte ou mais. No rosto dele então fez-se um sorriso por que ele se lembrava que sempre pensou que Romeu e Julieta deviam se encontrar depois em algum lugar. E tudo parecia tão simples quanto a simetria do rosto dela. Tudo parecia tão bonito quanto ela. Ele de sério e frio e travado foi ficando mole. Aí ela percebeu e pulou em cima dele num abraço e beijo de menina que é mulher. E a fada madrinha providenciou muitas cenas de contos de fadas e brigas de romances adultos. Por que era assim que a mocinha pensava o final feliz.
Foi num dia como hoje que nasceu meu italiano. Um dia em que eu não tinha nada pra escrever, mas aquela vontade enorme. O italiano não é um personagem meu. Me encomendaram e ele tomou forma, até se tornar meu. E foi bom, por que ele é grande e sórdido e nojento. Eu gosto de personagens que as pessoas me mandam escrever. Por não ter nada que venha de mim, pego então o que vem de fora. Comecemos:
Se Nabokov a tivesse visto, sua Lolita não seria ruiva nem sardenta. Teria pele branca rosada e lisa, rodeada de cabelos muito pretos e enfeitada por uma boca naturalmente rosada. Seria também magra e pequena, com a voz um pouco arrastada e um sotaque forte de quem se criou na roça. Seria brasileira e teria gingado de funk. É uma pena, mas Nabokov nunca a viu. Morreu antes que ela desabrochasse e nem pode saber que ela desabrocha novamente a cada dia com sorrisos e teorias maléficas sobre conquista e dominação mundial. Raio de Sol, como a chamam, poderia muito bem ser estrela de seriado adolescente americano e encareceria o orçamento com exigências monstruosas e muito justas. Contaria a história de sua própria vida com trilha sonora interessantíssima de quem tem um bom e eclético gosto musical. Por que Raio é daquelas que anda como se ouvisse Pretty Woman e sorri como se fosse Adriana Calcanhoto cantando. Então haveria Judy Garland over the rainbow, pra poder tornar bem bonita a trilha toda. É que Raio tem cara de Dorothy, bate os sapatos e precisa achar um lugar. Dorothy e lolita ao mesmo tempo, mas sonhando ser Cinderella. Fica assim, então, pra dizer que ela já foi inventada e é boa personagem sim. Menina feito Dorothy, atraente e mimada feito Lolita, princesa feito Cinderella e dona dos mesmos olhos de cigana oblíqua e dissimulada de Capitu. Bento e Capitolina escrito no muro de trás da casa e olhos grandes de ressaca.
É preciso ser um pouco brega no dia-a-dia. E é preciso sorrir no dia-a-dia. Por que a breguice e os sorrisos fazem bem para a pele de qualquer mocinha espinhenta com ou sem problemas hormonais. A verdade é que sentimentos doces liberam toxinas, nem que seja por suor.
Agora ouço Paulo Ricardo, por que ele diz que há uma voz que diz pra pular de olhos fechados, que diz pra eu pular de olhos fechados. E não tem coisa mais brega que Paulo Ricardo gemendo sobre fugir e se permitir a ouvir a voz desse desconhecido: o amor. Então é a minha vez de ser brega. É a minha vez de sorrir.
Todos os dias têm sido a minha vez de sorrir. E todos os dias têm sido lindos e coloridos por toda essa breguice que me anima e me faz ouvir Paulo Ricardo, Wando, Celine Dion e Sinatra. ‘Cause i’m your lady and you are my man. E pense em Rosana também, por que como uma deusa você me mantém.
E eu preciso dizer que cada dia tem sido mais doce e mais bonito. Cada sorriso tem sido mais sincero e o Paulo Ricardo continua sendo muito estranho quando geme dando seu olhar quarenta e três, aquele assim meio de lado já saindo indo embora louco por você, princesa. Que desperdício!
Por que por mais brega e pedreiro que qualquer homem seja, sempre há Paulo Ricardo para ser um pouco mais.
E eu gosto de você tanto quanto ou mais do que todas as mocinhas da década de oitenta gostavam do Paulo Ricardo.
E que bom que você me agüenta e eu te agüento. Que nos agüentemos por mais muitos meses!
Por fim, não podia faltar Wando! O que seria de nós sem o Wando?!
Avisa pra Maria que eu não quero ver o filho dela nem pintado de ouro. Avisa pra ela que ele já não faz parte da minha vida e assim eu fico muito bem. Avisa pro filho da dona Maria que as portas estão todas fechadas por que ele não soube aproveitar enquanto elas estavam abertas. Acabou, obviamente. Avisem ao filho da dona Maria que ele já não é a escolha faz mais de um mês. Não me amarro em dinheiro não, beleza pura. Só formozura. Avisa pro filho da dona Maria que teria dado certo se ele tivesse pintado o céu de cores distintas e brilhantes. Avisa pra dona Maria que o bebê dela cresceu sórdido e bonito, mas peça que ela o coloque no colo e acalente, por que ele anda carente e vazio. Avisa pra dona Maria que o filho dela não vai me esquecer, mas eu não sou culpada. Avisem, por favor, que eu tenho classe. Também avisem ao filho da dona Maria que ele não sabe dançar, por que ele pode tentar e vai ser constrangedor. Avisem-no que ele não sabe abrir os braços e fechar os olhos pra voar. Avisem pra dona Maria que se ele voar pode ser bom. Avisem pra dona Maria que ela tem que cobri-lo à noite e ajudá-lo a enfrentar os medos. O filho da dona Maria anda moleque demais pra quem já cresceu. Avisa pra dona Maria que o abraço do filho dela é gostoso apesar de tudo e que a secura dele é boa pra fazer gente crescer. Mas avisem que ele anda sendo baixo como não precisava. E fala pra dona Maria fazer sopinha e mandá-lo ao médico. Conta pra ela da máscara que ele usa quando sai de casa. Conta que ele é só um menino com frio e assustado com tudo. Manda a dona Maria dar um susto nele pra ver se ele cresce. Manda a dona Maria cuidar dele por que eu não vou mais. Avisa pra dona Maria que o filho dela ainda vai valer à pena pra alguém, mas anda fumando mais de um maço de cigarros por dia. Avisa pra Maria que o filho dela precisa de pai pra entender que a mãe não é a mulher perfeita não. Por que enquanto a dona Maria for perfeita todas as mulheres do mundo vão ser apenas seres pra quem é imoral dizer não. Avisa pro filho da dona Maria que se for assim ele pode adoecer. Avisa pro filho da dona Maria que ele vai continuar vazio e o buraco novo fui eu quem cavei. Avisa pra ele que eu fui em outra direção. Dá um abraço nele e faz ele entender.
dedicado com muito gosto à correnteza de qualquer rio.
Olho pra foto e vem automaticamente o cheiro. Disseram-me que só epiléticos tem memória de cheiro, então devo ser uma. E de pensar em epilepsia penso em pessoas trêmulas. Em mim trêmula. Em mim chão. Aí vem mais nojo ainda, por que é inevitável lembrar do chão vendo a foto. Não há saudade. Não. Não há nem vontade. É uma coisa incômoda que fica no peito e já ficava antes. Não é uma coisa bonita, é o avesso disso, que costuma ser desimportante, mas que trava a boca. Vem um gosto ruim que não combina com a minha trilha sonora constante. A verdade é que todas as músicas que me lembravam as pessoas de antes já não tem o mesmo efeito. O asco da foto e a epilepsia não aparecem quando ouço “All Star”. As músicas não estão mais do mesmo jeito. Me toca ouvir “As time goes by”, por que é tema de Casablanca e nós sempre teremos Paris. De resto, as músicas que me faziam chorar pouco me importam. Ficaram apenas as músicas que dão vontade de tentar valsar e acabar pisando no pé do companheiro. Sempre o mesmo companheiro. Sempre os mesmos dois pés pisoteados por uma dançarina medíocre que só sabe mexer os quadris.Então o funk passa a ter efeito superior ao de fotos e ascos e músicas mais melodiosas. Por que todos os funks do mundo me fazem sorrir, já que me lembram sempre a mesmíssima pessoa (que por si já vale muitos sorrisos).
Foi mamãe que me ensinou a fazer ofícios. Ela quem me disse da ironia, objetividade rapidez. - Eles tem que ler, Aline, se não, não adianta. E a verdade é que as pessoas acabam mesmo tendo medo de coisas com mais de três parágrafos corridos. É aterrorizante e pode ser chato. Pequenos apenas podem ser chatos, não dão tanto medo assim. Mamãe me ensinou muitas coisas, como fazer brigadeiro e usar brinco e gostar de dourado e lavar as mãos com todo o cuidado do mundo. Então eu termino pra você não ter medo de continuar lendo e deixo espaço pra você sentir toda a doçura que tem esse amor de mãe que faz ofício.
“Pornografia é transgressão, libertação. É o sexo sem vergonha de si mesmo, que se despe da cínica túnica do erotismo para expor o que de mais humano existe nas relações amorosas.”
Então ele ligou o som, se perfumou e esperou que ela viesse acesa e dele. Dizia que ela era um vulcão e devia ser mesmo. Ela parecia gostar de fazer tudo o que fazia com as mãos e a boca. Ela mordia a própria boca e gemia alto, sempre. Por que os dois tinham corpos que combinavam e cheiros que atraiam. Ele a via querendo meter-se e meter-lhe a mão em todos os lugares. Ela o via sem qualquer pudor.
“But that’s why birds do it,
Bees do it,
Even educated fleas do it,
Let’s do it, let’s fall in love.”
Ele olhava de canto de olho a saia dela que sempre passava balançando. Ele gostava da saia dela e de mais. Ela nem via, mas ele queria a moça que passava, bem como a saia no chão do quarto.
“You're so lovely, with your smile so warm
And your cheeks so soft
There is nothing for me but to love you
And the way you look tonight”
Então ela perguntou o que ele achava do vestido e ele engoliu seco. Ela não entendeu absolutamente nada, mas ele não podia escancarar que aquele vestido servia apenas para que ele se interessasse pelo que havia embaixo do vestido.
“Love for sale
appetizing young love for sale
love thats fresh and still unspoiled
love thats only slightly soiled
love for sale”
Na verdade, ela era pura. Em todos esses anos de puta ela sempre se assustava com os nomes feios e as taras esquisitas. Queria flores e sapatinho de cristal. Nem sabia de onde eles tiravam aquilo tudo, então ficava quieta. Talvez as esposas fossem mais depravadas.
A flor não era seca de forma alguma. Na verdade, poucos conseguiam entender exatamente o que ela era ou o que fazia. Sei apenas que ela era doce como poucas garotas e distribuía sua doçura como chuva. Por isso mesmo despertava antipatias como a minha. A flor encostava e tocava, era uma gracinha de chuva que eu não gostava.Era linda a flor, apaixonante. E numa dessas, ao vê-la chorando entendi a doçura e a mulher que havia na garota. Por que a flor distribuía açúcar e pimenta em sua chuva, e a pimenta dela ardia que dava raiva, por que ela não era flor que se cheirasse assim por nada. A flor chorava que dava pena. Mas eu entendia o grito da flor. Entendia que ela era menina e ainda não sabia usar o veneno que tinha no néctar. Aí esguichava meio sem norte e meio sem noção. Mas a flor vai desabrochar e ganhar forma. A flor vai dominar o veneno pra ser eterna. Vai se despetalar e se recompor muitas vezes. A flor vai continuar chovendo e eu vou regá-la, que eu agora gosto dela e da sua fúria de flor.
Muitosentimentaldepoispoucosentimental. Na verdade estou seca por que melosa demais pra escancarar. Na verdade estou seca por que preciso de um abraço. Do you believe in poetry?
Mais um ou dois passos de dança e quem sabe eu me embriague só de suor! Parece bom pra mim. Repito sempre a mesma frase pra ser original. Não é uma gracinha? All that jazz. All That jazz. Eu não sabia que era Liza Minelli e nem que ela era filha da Judy Garland. Tão gracinha ela tomando o palco inteiro! Talvez me falte palco. Talvez exceda aplauso. Quero gozo, meu bem. Quero ouro, neném.