terça-feira, junho 19, 2012

Comecinho de amor


Dorme, por favor. Essa dor nas suas costas só resolve se você estiver dentro aqui de mim. Queria muito que você coubesse e enchesse à ponto de eu precisar vazar. Tenho me esticado pra engolir você.
Já entendi que o cozimento é lento e que não curtes esta onda de canibalismo. Quer lamber primeiro, ver primeiro, cheirar primeiro.
Mas olha aqui: eu não sou vinho. Se for beber, vire como cachaça. 

segunda-feira, junho 11, 2012

fábula do sabãozinho apaixonado


Quando o sabãozinho apaixonado se deu conta de seu estado, esperou a coisa dissolver. Depois de decidido, foi à sabãozinha ainda meio perdido, mas com o amor crescido não se segurou. Ele acreditava em amor sendo estado físico. Disse, então, de sopetão:
- Eu te omo.
E quando disse, ela nada entendeu. Mas é que o sabãozinho queria mesmo tornar-se sabão em pó, e que a sabãozinha também o fosse. Nesse estado, os dois podiam dissolver na mesma água, misturar-se de verdade, fazer espuma. Em pó eles lavariam muita roupa suja juntos e o sabãozinho torcia para que limpassem principalmente lençóis de casais. Queria ele lavar o amor físico dos homens e concluir assim a função de uma paixão que não tem fim. A sabãozinha, já meio gasta, ao entender o fino propósito de tudo, sorriu em barra. Torciam juntos a roupa dos outros e tiravam as manchas do mundo enquanto faziam a mesma prece.

sexta-feira, junho 08, 2012

Tango?

Ele tem cara de abóbora e o outro tem cabelo cinza. Eu queria uma esquina com um, um banco com outro. Mas qual o um que vale a conta?
Aprendi que a alma é grande grande como eu sou pequena. E também que a estatura não vale a curvatura de nada. Mas se ele voltar, que coisa linda!
E o outro, quem é? Se nenhum é número, qual vem em primeiro, não sei. Só queria um volume mais baixo, às vezes, mas outras uma série grande de explosões.
Não vou acordar ninguém de noite, que eu mesma nem sei abrir os braços.
Olhe bem, não sei esse negócio de quadrilha, mas a gente pode brincar ainda de roda.