quinta-feira, março 27, 2008

Vinho Barato

Texto velho, do ano passado, por que a falta de tempo e o cansaço não me permitem poesia nova


Gastei cinco reais com aquele vinho barato e acabei fumando um cigarro de menta. Ainda está me arranhando a garganta mais que minha gripe que também parece ter piorado por conta do choro. A cabeça dói do vinho e da raiva. Eu não consigo dormir.
Há tempos que já não tinha desses problemas, eu deitava e dormia onde estivesse.
Talvez eu não esteja cuidando bem nem do meu fígado nem de mim. Mas o fato é que ele disse que eu sou boa demais pra isso e o gosto do cigarro foi embora no ralo da pia depois que eu escovei os dentes.
Talvez o cigarro seja tão necessário quanto o Ed Motta no meu som. Não quero nenhum dos dois e enjoei de Ed Motta. Não to ligando para a Colombina ou o Arlequim.
Eu sou boa demais, ele disse.
Mas eu queimei o braço no ferro de passar e eu estou tão cansada de queimar o braço no ferro de passar. Tão cansada de me queimar tentando ajeitar as coisas pra fazer tudo dar certo.
Eu estou tão cansada de tentar fazer tudo dar certo.
Eu estou tão cansada que nem o vinho e o cigarro deram conta.
Os dois queimaram e não deram conta do meu braço com duas queimaduras leves e pequenas que vão virar marcas pra durar anos e anos a fio.
As queimaduras sempre são leves e pequenas e eu sempre curo com batatas que eu não sei onde foram plantadas ou que tipo de agrotóxico levaram. O importante é que as queimaduras deixam marcas, mas eu sempre agüento.
Mas hoje não.
Hoje eu não agüentei o braço queimado e não me agüentei disposta a me queimar mais. Ele disse que eu sou boa demais pra isso e tem razão.
Eu não preciso me queimar e não preciso não dormir.
São cinco da manhã e minha cabeça dói de vinho e falta de sono.
Não é meu porre de cinco reais que me dá dor de cabeça.
Foi um real o milho, dois reais o cachorro quente, dois reais a coca cola e cinco reais o vinho.
Parece que dizes, te amo, Aline
Na fotografia estamos felizes
Parece bolero te quero te quero
Tenho que ler Eva Luna e aprender a cantar Chico direito. E tenho que editar matérias e tomar sol. Tenho que dormir e tenho que mar e tenho que esfriar a cabeça. Tenho que fugir e tenho que mar e tenho que mar que mar que mar mar.
Tenho que desqueimar.
Tenho que desvinhar e despertar e correr.
Tenho que encarar de frente por que é esse o final que eu buscava para a história.
Ele perguntou enquanto segurava forte o meu braço:
- e o final?
Eu não sabia responder no pânico daquele dia. Mas o final sou eu aqui escrevendo mais um texto de vinho barato e insônia. O final sou eu sozinha mais uma vez e mais uma vez sem chão.
E no fim eu não devo ser tão boa assim.
Ou sim.
Foi cinco reais o vinho que não valeu.
Foi vinte reais o livro e foram muitos reais de nada.
Amanhã vão ser cinco reais de chocolate se o mar não der conta.
Ai eu preciso tanto de mar quanto de texto. Por que o mar sabe me ler e me lamber como ninguém. O mar é tão mar que eu mar no mar. Eu quero me misturar feito leite em pó instantâneo. Vou ver se durmo agora, às 5 e acordo às 8 pra nadar num sol de sete na praia que cheira cocô do show de ontem.
Mas é que eu preciso tanto de mar.
Mar pra me entender e desmistificar. Pra me ser talvez inteira como não tenho sido e provar pra mim que eu não preciso de colo e nem de ninguém e que passou o tempo de ser mimada como eu sou. Passou o tempo do sim.
E passou o tempo dos morangos que estamos em fins de outubro.
É hora de dormir.

13 comentários:

Anônimo disse...

Aline, muito bom o texto. Gosto do teu blog, volta e meia apareço.

Abraços!!!

Rafael Almeida Teixeira disse...

Assim como o colega blogueiro Jeremias, gosto do teu blog. Tua foto do perfil em especial. Amo.

Bem é hora de dormi.

Minha cama está posta, bem atraente aconchegante até a tampa.

Abraços menina linda

Darshany L. disse...

Minha garganta está doendo..

Wander Veroni Maia disse...

Excelente crônica, adorei!!!

Alex P. disse...

bem interessante.... É texto antigo, do ano passado, mas me parece ser bem atual para você, ou não ? E não falo do vinho barato de cinco reais, que hoje acho até que pode ser mais barato ainda.

Gostei especialmente do ritmo do texto, envolvente e crescente, e depois...terminar com muito mar...

Primeira visita aqui. voltarei outras vezes...

Igor Thiago disse...

kkk
adoro vinhos baratos :)
kkk
belo texto :D

beijos

Puts!

Vinicius Langa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

vinho barato + Aline...
o resultado é sempre surpreendente... mesmo que ela não precise do vinho para surpreender a cada minuto!
amo ler você!

Loziane Xavier disse...

Gostei do seu texto,
vc escreve mutio bem..
e realmente ter insonia
não é legal rsrs.
Agora mudando de assunto
queria dizer qu estou passando aqui p/retribuir sua visita em blog,adorei seu comentario.
Ha e olha amiga acho que meu
blog é só um pouquinho mais rosa
que seu,se tratantando de rosa nosso blog quase impata rsrs ;)

Beijinhos e sempre q quiser voltar lá será bem vinda,e te retribuirei sempre suas visitas =)

bia de barros disse...

Eu não entendo como você consegue entrar na personagem e ser o eu-lírico sem nunca havê-lo sido.
Deve ser porque escrever é pra quem pode,
não pra quem quer, né?
bjo, psicababy. ^.~

Flora disse...

eu fui a primeira a saber do texto... lembro que vc me ligou de manhã e leu VINHO BARATO pra mim...
até que enfim resolveu postar...
beijos

luisfilipe disse...

ahh lembra d mim??
enfim gostei dos textos

vo add^^

Anônimo disse...

Dona Dias.
Gostei bastante como sempre!

Beijo