- Mas, moça, você não quer ganhar nada?
- Ué, precisa?
- Precisa sim, oras, você está fazendo, tem que receber.
- Mas moço, nas histórias eu sempre fui fada madrinha, nunca
princesa. Então a parte em que eu ajudo move muito e eu fico alegre.
- Entendo, mas e o dinheiro?
- Se você insiste, eu aceito, mas olhe: abraço apertado,
beijo molhado, banho de chuva, cheiro de terra e cheiro de milho não custam
dinheiro. Além do mais, eu gosto de ver quando as pessoas sorriem.
- Entendi, a fada madrinha.
- É! Pense comigo, quem move a história é sempre a fada
madrinha. Quem dá volta na madrasta, quem garante a noite, quem faz a princesa
resolver o seu problema?
- A fada madrinha.
- Pois então. Princesa tem a voz muito passiva. Fica lá
sofrendo pelo príncipe, sofrendo na mão da madrasta, sofrendo na mão da bruxa,
sofrendo limpando o chão, sofrendo a ação... Eu não!
- Gramática?
- É, sim. Se eu for a fada, fico com voz ativa.