domingo, outubro 30, 2011

Tapa

Agora, Aline, você para de falar e se aquieta um pouco. Bote uma Elba, sei lá, pra tocar e descanse. Não tente agora abraçar o mundo todo. Sossegue.

O amor é isto mesmo que você está vendo.

Trabalhe. Confie. Trabalhe mais um pouco e desconfie. Descanse. Leia. Faça alguma coisa pra mudar de cara. Contenha-se. Depois cante, que quando você canta nem se cuida quem não é seu irmão.

Continue inteira, íntegra, desperta. Não dance ainda, nem pense que vai tudo dar certo no primeiro sorriso. Brigue mesmo. Não abra nunca mão de si.

Aprendeu?

Se reprovar, vai esfolar a cara inteira mais uma vez.

Agüenta?

quarta-feira, outubro 26, 2011

Saudade

Eu sinto falta do que a gente foi um dia. Daquela pressa, da sua calma, de você bravo, do seu regaço, do volume do peito e da gordurinha da cintura. Você nunca foi muito de me olhar, mas cantava.

Eu sinto falta de sentir sua falta em cada segundo e eu sinto falta de dizer apelidinhos que eram nossos. Rir com você. Os filmes, o álcool, o escuro, o frio – que quando é junto é muito mais gostoso. A vergonha que você tinha às vezes de falar as coisas e o jeito de olhar pra baixo.

Eu sinto falta do encantamento, da sua mão na minha nuca, da implicância, dos jogos de tabuleiro, do desenho, da lógica e da Avenida Paulista. Eu completamente sem paciência pra museu, mesmo o Masp, e você querendo apreciar e explicar aquelas coisas que também te fazem e eu não sei ver.

Eu sinto medo de a desistência ser um erro e de os defeitos que eu botei serem todos inventados.

O que é que eu vou fazer depois de você, se parece que nada vai conseguir ficar bonito e os outros homens do mundo vão ter qualidades insuficientes?

Como é que eu faço pra manter-me sólida estando sem você?

segunda-feira, outubro 24, 2011

Essa aflição é paixão ou café? Quilos e litros de droga, sei lá. Tem folga semana que vem? A rima, de fato, não tem. Escrevo em prosa como quem automatiza, máquina.
Eu não sei mais coisa quente. Semana que vem a gente troca de sangue. Eu não sei mais cheiro novo. Esse café é pé ou paladar?
Vixe Maria o que foi isso maquinista?
Fumaça cor de rosa que este mundo noite a dentro fica blue. Letra, depois letra, depois tempo, depois forma, depois letra.
Os braços pesam muito antes de escrever. Os dedos não deslizam mais. O sexo está desaprendido, preso – quase casto.
O ontem sustenta o talvez de amanhã. O ontem eu não sei há quanto tempo passou.

sexta-feira, outubro 14, 2011

depois da páscoa

Um amor grande desses que não cabem. Volta, mas eu não quero. Volta, mas acabou. Um amor desses que queima. Termina hoje. Volta. Termina hoje comigo. Foi ano passado que a gente tentou e ainda dói. Um amor desses que não termina.

Eu quero ontem amor novo. Eu quero amor novo amanhã e hoje.

Eu quero não chorar por amor que não acaba nunca, nunca.

Eu quero nunca mais esperar.

Porque parece que a vida toda, mesmo curta, foi ensaio. Porque parece que o peito todo não cabe a coisa grande que vem quando o nome é citado,

Porque parece que a academia serve pra estudá-lo e parece que eu sirvo só pra isso.

Parece que eu fui feita pra pensar em como seria se fosse alguma coisa.

Parece que eu doía se não fosse alguma coisa.

Eu fico doendo.

Eu fico longe.

Eu tenho, eu juro, outros carnavais.

quinta-feira, outubro 06, 2011

destroço

Tem certeza que não há pontas? Moeda esquecida, roupa perdida, toalha, livro, causa? Nenhum nó na coluna? Um não sem dizer?

Ontem eu não te vi, nem anteontem, nem semana passada. O adeus, dolorido que fosse, ficou facada certa, profunda, infinita. Definitivíssimo como se amanhã fosse coisa sem dúvida. Como se o ontem fosse sem reparos.

Nada, ninguém. Amor puro fantasma que nos passeia de leve.

Eu não sei mais insistir.