Na casa dela há muitas flores. Olhando, Olívia pensava que queria ter dinheiro apenas pra ter flores assim na janela. Então ela entrava na casa escura e era como atravessar um portal pra entrar num túnel de calma, paz e doçura. A tia estava sempre deitava na cama e mantinha-se muito bonita e aprumada apesar dos seus quase setenta anos.
Olívia, de dezoito, queria ficar mais velha tendo aquela pele e aquele gosto por comprar jóias. Sentava-se ao lado da tia e então conversavam sobre tudo, principalmente sobre flores na janela.
A tia dizia que não adianta nada ter carro se na casa não tem nenhuma flor. E todas as vezes perguntava a Olívia se ela já tinha lido O Pequeno Príncipe. Olívia fingia que não notava aqueles lapsos de memória e dizia que sim, que lia todo ano e que a história era das mais bonitas e tocantes.
As duas então recordavam-se da raposa falando que a rosa era única por ter cativado o príncipe.
Aí falavam de outros livros e de muita calma. Gostavam de samba e de vermelho da mesma forma, mesmo em idades tão distintas. Queriam conhecer a França e Olívia tinha ainda que aprender toda a língua. Ao contrário da tia, ela não tinha lido Madame Bovary no idioma original, muito menos a Simone de Beauvoir.
Depois risadas. Muitas e sem qualquer freio.
Era pouco depois que a tia tinha sono e Olívia ia embora pensando que queria uma casa cheia de flores.