sexta-feira, março 30, 2012

ato de contrição

Eu queria tanto. Quero tanto ter força o suficiente pra mandar de verdade a culpa tomar no cu.

Vai, culpa, pro raio que te parta átomo de nada.




- Repita cinco vezes, de joelhos. Depois sambe.

quarta-feira, março 28, 2012

mãos no fogo

Sem paranóia, bróder.

Como se cruzam os pés, no fim das contas, é o que conta. Preciso te comer até o fim do dia, mas você não sabe que amanhã pode ser tarde para o nosso encontro de mãos. Existe, bem perto, uma praia. Ali o horizonte fica imenso e a sua pele, vermelha. Eu quase não douro. Amoreno-me ainda mais, preta que sou, escureço. Esquentamo-nos neste verão distante, eu numa ponta, você noutra – e nada de mistura.

Eu sei, eu sei, estivemos combinados de que nada e pronto. Entretanto, o tempo vai prescrever nossa conjunção e a curiosidade vai durar pra sempre.

“E se?”

Você agüenta?

domingo, março 25, 2012

oito de copas

A espera finda. Inevitável. eu que não controlo destino não sei o tamanho que as coisas já têm. Virei sem querer um oito de copas porque existe acaso e o baralho nunca nunca mente. Montei você devagar como uma canastra de paus que ninguém vê que foi feita de lixo. Ganhei o jogo? são quantos os coringas?
O meio do caminho é exatamente a ponte. Você disse que vinha e nada. Tanto tempo assim eu dou braçadas pra longe. Me afasto. Pronto. Assino de novo um contrato de desamor e não quero mais saber daquele tempo que queria antes perto e junto com você.
Quantas cartas fazem mil pontos? E como eu conto se nada existe?
A espera persiste.

quarta-feira, março 21, 2012

21 de março

Consequência tem quatro sílabas de gramática e três sílabas métricas. É paroxítona, tem acento e perdeu recentemente a trema. De um jeito ou de outro, a gente treme com determinadas consequências que aparecem. E elas sempre aparecem, não importa o tamanho das coisas, mas elas têm causa, coisa e conseqüência. Passado, presente e futuro. E consequência é coisa certa, certíssima. Batata, diria Nelson Rodrigues.

Ninguém sabe se aguenta esse tanto de consequência de qualquer mini ato efetuado com cabeça pensante ou por impulso. Mas uma vez me disseram que eu tinha que aguentar, porque elas, todinhas, eram problema exclusivamente meu – e de mais ninguém. Me disseram que era obrigação e fatalidade existir essa coisa de quatro ou três sílabas, paroxítona e acentuada. E, mais, eu ia ter que saber lidar e pronto, com cada microcoisa cósmica.

Estive avisada que ser gente grande doía e nem acreditei o tanto que seria grande essa dor. Também estive avisada de que verdade é o melhor dos caminhos e que, escolhendo este, as consequências acabariam atenuadas. E a ser fria ou quente, morna nunca, jamais. E também a ler sempre e me renovar. Observar o ambiente, caramba, prestar atenção nas coisas porque tem um mundo inteiro em volta que não gira em torno de mim e que deve ser minimamente compreendido. E que a sociedade não vai mudar só por que eu quero, que eu preciso entender como ela funciona até para não querer me adaptar. E tantos es que não cabem mais nesse texto.

Mas a conseqüência e tudo citado acima, aprendi com aquele moço grande em cuja barriga eu pulava de manhã cedinho por querer ver o sol nascer da janela inalcançável. E dessa barriga, já pulei pra tantas janelas diferentes com cada coisinha apreendida em tanto tempo. Mesmo turrona como o dono da barriga, mesmo tendo puxado dele o gênio, as manias, as maçãs do rosto e os defeitos quase todos (e inclusive o dedo mindinho), eu consigo aprender com ele todos os dias.

E é por isso que não bastava dizer só feliz aniversário. Nenhum textinho vai ter espaço pra tanto amor.

Então, pai, obrigada pela barriga, pela conseqüência, pela ortografia, os novos baianos, a carta roubada, o Freud, o Nietzsche e as mensalidades (etc, etc, etc que não acaba mais). Amor a gente não agradece, sente. Te amo.




sábado, março 17, 2012

Crônica do Dia da Mulher

veiculada 8 de março na Rádio Universitária


Dona Candinha disse que é muito feio uma moça de família sair beijando um monte de rapazes. Imagine se eles estão numa roda e mais de um deles já beijou a mesma moça! Segundo dona Candinha, é caso grave de moça refestelada.
Dona Candinha ainda diz que as moças não devem nunca dizer aos rapazes que elas tem algum interesse, pois iniciativa é coisa masculina ou de moça refestelada. Que é muito feio a moça ser fácil.
Com dona Candinha na cabeça nesta crônica de dia da Mulher, resolvi conversar com alguns amigos do sexo masculino buscando saber qual conceito eles tem de vagabunda. Moço x, no alto de seus 20 anos, acredita que vagabunda é a moça que se envolve com vários rapazes do mesmo grupo. Moço x acredita que as moças possam ficar com quem quiserem, desde que isso não seja público e também que não dá pra namorar uma moça que fica com vários rapazes. Questionei Moço x do porquê. Moço x disse que uma moça vagabunda não quer namoro.
Veio em minha cabeça uma pulga que dividi com meu interlocutor. Então uma moça vagabunda está incapacitada para o amor? Moço x não soube responder. Disse nunca ter pensado no assunto.
Mas, então, o Zé me disse que não acredita em vagabunda. Acredita que a mulher deva ter liberdade de estar com quem quiser é que é muito hipócrita aquela velha coisa de um homem ser garanhão e a moça uma refestelada. Respirei um pouco mais aliviada. Me senti de volta ao século vinte e um.
Pra mim, uma moça dizer que quer determinado sujeito significa apenas que ela quer esse determinado sujeito, não todos os outros. Além disso, se ela quer todos os outros, o problema é apenas dela. Mais ainda. Se ela foi fácil para um, não precisa ser para todos. Pois se o corpo é da moça, é ela quem decide o que faz dele. E aí, meus filhos, não tem discussão. O não continua sendo não mesmo quando foi dito pela Geni para o homem do Zepelim.
Também ouvi mais um rapaz. Um amigo meu que disse “Já me deparei em situações que eu pensei "nóóssa, que vagaba". Mas, assim, luto pra caramba contra isso. Sério. É só lembrar que as mesmas coisas que eu quero, elas também querem. A diferença é vetorial, só. E, pô, se a promiscuidade não deteriora meu caráter, por que vai fazer isso com alguma mulher?”
Lembrei-me então da dona Neusa que fazia questão de frisar ter sido sempre muito séria em seus namoros. E ela sempre disse o muito séria no sentido de estar com seus namorados pelos namorados e não por outro motivo qualquer. Pra dona Neusa, com seus 73 anos, o importante é a honestidade das pessoas.
Mandei mentalmente a dona Candinha pastar. Pra mim, o importante é a gente ser honesta com a gente mesma, com o mundo e se auto-respeitar. Não ultrapassarmos nossos próprios limites de um jeito que seja humilhante.
E se fosse possível cair agora na minha frente uma estrela cadente atendedora de pedidos, eu quereria pedir a ela que nenhuma de nós se anule, nunca mais, por nada.

terça-feira, março 13, 2012

o prato

Transpirante, ofegante e trêmula, acordei angustiada. Mesmo sendo você a minha primeira visão todos os dias ao olhar pra frete naquela sua foto bonita, tinha me esquecido de como era seu corpo. Deixei cair no chão um prato azul que, da minha mão ao chão, se fez em mil pedaços. Seu corpo na cabeça.
Eu não era só sentimento, enfim. Eu fora gente perto de você. Eu tinha pele. Não sei que força tem esse esquecimento. Seis meses apagando sexo. Acabou. Lembrei que o amor não veio romântico como havia sido posto. Você era um corpo inteiro no meu pulsante e admirado com a perfeição das medidas.
Não deve haver outro assim complementar. Eu só lembrava do choro e do peito latente e da ternura e dos abraços. Acordei nua e só com sua foto colada na parede.
O prato caiu e eu me espatifei em lembranças muito físicas. Então fiquei densa, dura, contida. Não há volta, por enquanto.
Melhor varrer bem o chão.