segunda-feira, dezembro 07, 2009

Crônica da irmã mais velha.


Não adianta procurar. Não tem sentimento mais singelo do que amor de irmão. E quando eu falo, pode saber que é com propriedade. Se tem uma coisa que eu sou, é irmã (tenho 7).
E Eu sou a irmã mais velha, mesmo o Fábio sendo mais velho que eu. Nasci primeiro, depois veio a Marcela de pai e mãe. Depois os pais seguiram rumos diferentes e a minha mãe casou de novo. Com o padrasto, vieram o Fábio e o Caio. E foi o Caio, poucos meses mais novo que eu, quem me ensinou a abraçar pessoas. Enquanto isso, o Fábio me ensina todos os dias como é possível se manter gentil em todas as adversidades.
Marcela é a mais irmã de todas. Implica com meu jeito de vestir, me liga de madrugada quando eu não lhe faço companhia, me ouve gritar com ela no meio da faculdade e ainda me aguenta. Foi com a Marcela que eu aprendi a ser irmã e a comprar brigas. Sendo irmã mais velha, ela arrumava as brigas e eu entrava com os tapas.
Depois vem José e Manoel, só pra eu poder dizer para todo mundo que eu tenho um irmão Zé e um Mané. Nasceram quase juntos, um do pai e um da mãe. Manoel me ensinou a trocar fraldas aos onze anos de idade. José me ensinou que por mais novo que ele seja, é uma injustiça arrancar uma pessoa de frente do computador.
Todos me ensinaram muito sobre crueldade e sobre doçura - por que não há irmão mais velho sem tirania. Acontece que, na casa dos vinte, me nasceram mais dois irmãos.
Quando eu olhava para o Heitor pequeno, eu pensava que nem sabia no que aquilo ia dar, mas que havia um amor imenso no peito que ia durar para sempre. Então eu o ninava, cantando Chico Buarque, e o ensinava a dançar funk e ouvir histórias.
Meses de idade e Heitor amava a Chapéuzinho Amarelo. Davi também. Os dois montam na minha perna para ouvir histórias e ver vídeos no youtube. Mas com esses irmãos eu não moro nem brinco na rua. Não tem puxão de cabelo nem nada dessas coisas de irmão. Fico tirando fotos e achando tudo lindo, com aquele vazio de não ser criança.
Mas aí teve domingo um churrasco de família e eu vi uma coisiquinha de uns três anos e cabelo quase na bunda chamando a mãe dela para brigar com meu irmão de três anos de idade, o Heitor. Fiquei a postos para entrar em defesa. A menina gritava que o Heitor tinha brigado com ela e o Heitor olhava gaguejando para a enorme mãe ao lado.
- Mas é que, mas é que, mas é que, mas é que...
Peguei o Heitor e perguntei o que tinha acontecido. E ele me respondeu, numa altura que a mãe assustadora também ouvia.
- Ela zogou liço no são.
- Foi? E o que você fez? - perguntei.
- Cantei pra ela. Zogue liço no liço, não zogue liço no são. Quem zoga liço no são é porquinho.
A mãe da menina não falou nada. A menina, por outro lado, descascou um chocolate e tacou o papel no chão.

5 comentários:

Anônimo disse...

é por isso q eu te amo, gata. e amo o heitor. ha ha. Mah

Larissa disse...

Ah que ótimo!
E que fofo o Heitor.. ^^

Anônimo disse...

Fico sempre emocionada quando leio as suas coisas... é tudo sempre do coração. Você é uma ótima irmã mais velha. Beijos! Kátia

Yasminne disse...

Só tenho uma irmã. Sou meio tirana às vezes, confesso.
Mas sabe que debaixo dessa tirania tem um amora gigante q nem esse q vc tem pelo Heitor?
Sempre que eu vejo alguma coisa que ela aprendeu comigo, ou quando se mostra tão estrela, tão protagonista da própria vida. É, amor de irmão é uma coisa realmente singela...

Mil beijos, flor!

Raquel Zorzanelli disse...

Esse garoto é inteligente, é dos meus, não pode "zogar liço no são"!! hahaa!